Uma chance para o futuro do futebol do DF
Muito se fala em torno da construção do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha. Entre os principais pontos de discussão está a capacidade do gigante de receber mais de 71 mil pessoas, quando o futebol profissional da região passa muito distante desse número.
Discussões à parte, o Mané Garrincha foi concluído, sediou jogos da Copa das Confederações e do Mundial de 2014, além de vários outros confrontos. O sucesso de público, a beleza da arena e a suntuosidade são inegáveis. Mas muito ainda se questiona sobre o futuro do estádio e há a possibilidade de privatiza-lo, enquanto há a sugestão para que o gigante seja o ponto de partida para a renovação do futebol da capital, com formação técnicA de jovens, utilizando sua estrutura.
O jornal ViverSports ouviu alguns personagens interessados em ajudar a escrever uma história de sucesso da arena que pode render um melhor aproveitamento do espaço, assim como tornar o Estádio Mané Garrincha, de fato, a joia do futebol do Distrito Federal.
Jovens do DF deveriam ser beneficiados com a joia do Cerrado
Rodrigo Nunes
Especial para o ViverSports
Que o Estádio Mané Garrincha foi um dos estádios que mais brilharam durante a Copa do Mundo ninguém duvida. A colossal arena no tamanho e no preço – quase R$ 2 bilhões investidos – foi palco de grandes jogos e de grandes públicos. Mas atualmente, a discussão gira em torno do legado da obra para a cidade e ao futebol local.
A opção de privatização ganhou força nos bastidores e a Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo, responsável pela administração do estádio, declarou que o modo de gestão está em fase de estudos técnicos na Terracap, dona da arena. Uma das possibilidades seria justamente fazer uma parceria entre o setor privado, que seria encarregado de captação de eventos e venda de ingressos com um investimento de cerca de R$ 1,4 bilhão.
E essa possibilidade ganhou ainda mais força quando, em pesquisa recente, a Codeplan informou que o perfil socioeconômico do brasiliense dá respaldo à viabilidade do Mané, já que a renda média do morador do DF é a maior do país, com um rendimento de R$ 4,6 mil.
Mas o que o meio formador de novos talentos da capital questiona é: por que não usar a arena para o desenvolvimento do futebol local, como um novo espaço para formação de novos talentos do futebol, qualificação técnica dos atletas? Essa é a discussão encabeçada pelo Clube da Saúde e que ganha força entre outros clubes que trabalham com as categorias de base no DF.
“Eu acho que falta um projeto bem elaborado que venha a partir da própria destinação da governança do Mané Garrincha e isso ainda não está definido”, destacou o presidente do Clube da Saúde e diretor de futebol interino da Federação Brasiliense de Futebol, Helvécio Ferreira. Ele ainda afirma que a gestão do estádio tem de ser pública, transparente, em que as entidades responsáveis tenham participação ativa no cuidado com o local.
Formação técnica e o mercado de trabalho
O Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha é suntuoso e, de acordo com as pessoas que trabalham com a base do futebol do Distrito Federal, ele tem de servir aos jovens da capital. O Distrito Federal é um celeiro de craques e a grande maioria precisa deixar suas famílias para tentar a vida em outras regiões do país ou outros países.
Essa migração tem de ocorrer muito cedo e muitos não conseguem dar sequência aos estudos, pois apostam todas as fichas no sonho de viver do futebol. Mas todos sabem que é um percentual muito pequeno que se realiza. Os demais voltam para casa, sem perspectivas, sem estudos e com grande chance de cair em situação de risco social.
Se houver um entendimento nesse sentido, muitas histórias de sucesso poderiam ser escritas. É no que acredita Helvécio Ferreira, presidente do Clube da Saúde. Segundo ele, a estrutura da arena deveria ser utilizada não apenas para a formação de novos talentos dos campos. “O Governo do Distrito Federal poderia oferecer cursos técnicos, como os do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) e também uma faculdade de Educação Física. Com certeza, seria um grande passo para a formação dos jovens, visando não apenas o craque dos gramados, mas o cidadão com capacidade de seguir em frente e não ter apenas o sonho com o futebol, e, sim, um futuro digno”.
Outros compartilham da ideia de Helvécio. Para Elson Gonçalves, treinador do Esperança de São Sebastião, essa iniciativa colocaria os jovens de Brasília em outro nível e poderia ser o melhor futuro para o futebol. “Seria um marco, isso poderia mudar o rumo desses jovens. Hoje, nós temos muitos campos de grama sintética no DF e isso transformou esses garotos. Imagina uma estrutura gigante? Eu tenho certeza que os meninos vão se motivar mais, vai criar disputa de posições, vagas e isso vai fazer a diferença”.
O ex-treinador da base e gerente de futebol do Dom Pedro José Marcelino da Silva também gostaria que o local fosse usado como centro de capacitação. “É uma ótima ideia, eles teriam mais conforto, mais um incentivo para chegar bem capacitados”. (R.N.)
Ideia é bem aceita, mas falta proposta concreta
Promessas do futebol brasiliense como o jovem João Batista, 17 anos, capitão do Esperança, considera a chance de se capacitar em um estádio que já recebeu nomes como Messi, Neymar e Cristiano Ronaldo um incentivo. “Temos um sonho de virar profissional e não é qualquer um que terá essa honra de conseguir isso em um campo de Copa do Mundo, como o Mané Garrincha”. Yuri Victor, também de 17 anos, é volante do Ceilândia e acha que esse era o incentivo que os atletas da capital precisavam para manter o sonho de se tornar profissional. “Será uma forma diferente de mostrar os craques de Brasília, já que a concorrência aumentaria e nos motivaria ainda mais na busca de sermos os melhores”.
Caso a arena multiuso seja utilizada com sabedoria, vamos ter muito retorno para o futebol local. É o que pensa o presidente da Federação Brasiliense de Futebol, Josafá Dantas. “O espaço pode ser, sim, utilizado pelos novos atletas, mas temos que discutir com o governo. O importante é ele não ficar ocioso”, destaca Dantas.
A ComCopa informou que não recebeu, ainda, nenhuma proposta para realização de cursos técnicos dentro do Mané Garrincha. Porém, o local é multiuso e desde a construção já vem sendo usado como um laboratório de formação profissional para diversas áreas e pessoas, que podem estar cursando o ensino superior, médio ou fundamental. (R.N.)
Brasília na rota de grandes eventos
Para o órgão responsável pelo Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha, a arena já é um empreendimento consolidado, que oferece retorno e cumpre o papel de instrumento de desenvolvimento econômico e social para a cidade.
A secretaria afirma, ainda, que o principal legado é ter colocado Brasília na rota dos grandes eventos nacionais e internacionais, gerando visibilidade, atraindo turistas, criando oportunidades de emprego e aumentando a renda do Distrito Federal. Segundo dados da Codeplan, para cada grande evento realizado no Mané Garrincha, são movimentados até R$ 12,3 milhões na economia local, com geração de até duas mil oportunidades de empregos.
Quanto à discussão sobre o valor do estádio (quase R$ 2 bilhões) investidos, a ComCopa, informa que, para cada um real investido na construção do estádio, o Governo do Distrito Federal assegurou outros quatro para infraestrutura, mobilidade urbana e segurança.
Entre os grandes eventos que a cidade já recebeu estão a Copa das Confederações, a Copa do Mundo, partidas do Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil, Torneio Internacional de Futebol Feminino e o Candangão. No calendário ainda estão jogos das Olimpíadas de 2016 no futebol e, em 2019, a Universíade, segundo maior evento esportivo universitário do mundo. (R.N.)
Alteração na pasta do Turismo e Estádio está sob nova administração
Um decreto publicado no Diário Oficial do DF (DODF) de segunda-feira (1º) altera a estrutura administrativa da Secretaria de Turismo. A pasta, que assume novas atribuições quanto à promoção de Brasília como polo turístico, passa a ser chamada Secretaria de Turismo e Projetos Especiais do Distrito Federal. A nova secretaria passa a ser responsável pela programação e operação do Estádio Nacional Mané Garrincha.
A edição do DODF traz, ainda, a extinção da Secretaria Extraordinária da Copa. Com a medida, o secretário Claudio Monteiro assume nova função como secretário de Turismo e Projetos Especiais.
Permanece no comando da pasta Luís Otávio Neves, como secretário-adjunto, para dar continuidade à política de fomento ao turismo na capital, que conquistou resultados tão positivos durante a Copa do Mundo. A cidade foi eleita pelos turistas a melhor das 12 sedes do mundial de futebol.
“Estamos consolidando uma parceria entre a Secopa e a Secretaria de Turismo, que deu muito certo. Teremos uma agenda cheia para o estádio. É preciso dar continuidade ao trabalho que levou o Mané Garrincha a ser referência nacional e internacional de espaço estratégico para o esporte, a cultura e o turismo da nossa cidade”, destacou Claudio Monteiro.
“Daremos continuidade a todo trabalho desenvolvido na secretaria na área de Turismo, potencializando ainda mais tudo o que a Copa e o estádio trouxeram para a nossa capital”, reforçou Otávio Neves.