Usar o esporte como ferramenta social é uma grande e admirável atitude. Sabendo da força e das oportunidades para trabalhar com crianças em situação de vulnerabilidade, Claudio Marcio Nunes Menezes, 41 anos, empunhou essa bandeira e, há 17 anos, mantém o Projeto Indo à Luta, no Setor “O”, em Ceilândia, por meio do Jiu-Jitsu.
Claudio Marcio, mais conhecido por Careca, trilhou um belo caminho de conquistas no Jiu-Jitsu. É bicampeão mundial (2002/2004); campeão Sul-Americano (2003); campeão Pan-Americano (2008). Morador de Ceilândia há 36 anos, ele treina há 20 anos e quis usar a modalidade para fazer algo pela comunidade, que não conta com muitas opções de lazer e entretenimento para os jovens da cidade.
O projeto Indo à Luta funciona na Academia Cei Jiu-Jitsu, no Setor “O”, e atende cerca de 250 alunos, com idades entre quatro e 17 anos. Segundo Claudio, sempre sentiu vontade de ajudar os jovens a evitarem o caminho das drogas e do crime por meio do esporte. “Acredito que esse é um trabalho preventivo. Precisamos estar atentos às drogas e chamar a atenção da sociedade para o crack, que está em todas as classes sociais e vem devastando tudo”.
Careca faz um alerta sobre a falta de campanhas antidrogas que poderiam preparar os jovens, a começar pela escola. “Deveria existir uma política que unisse governo e cidadãos, pois esse trabalho tem de ser conjunto. Há verba para isso, mas falta iniciativa”, acredita.
A academia Cei Jiu-Jitsu recebe alunos de Ceilândia Norte, Setor “O”, P Norte, Condomínio Privê, QNQ e Sol Nascente. A felicidade das crianças e adolescentes, treinando e cheios de esperança são o que motiva o mestre. “Se me perguntar qual o meu maior sonho, diria que realizo a cada dia, mesmo diante das frustrações”.
Caminhos mais promissores
Em funcionamento há 17 anos, o Projeto Indo à Luta já evitou que muitas crianças e jovens entrassem no mundo das drogas. O trabalho é realizado pelo mestre Careca, com ajuda de ex-alunos e pais. As dificuldades são grandes, pois, segundo Claudio Careca, não conta com apoio do governo.
“Não tenho apoio governamental. Já pedi algumas vezes e, quando consegui, confesso que foi a época que passamos as maiores dificuldades. Por isso, prefiro contar com a iniciativa privada”, conta.
O projeto já passou por altos e baixos, como revela Careca: “Não é fácil conduzir esse trabalho. Contamos com a ajuda de alguns pais e de três empresas que contribuem para a manutenção e demais despesas da academia, que não são poucas”.
Mesmo diante das dificuldades, Careca adotou a política de não aceitar doações em espécie. “Não aceitamos dinheiro. Precisamos de material esportivo, custeio com viagem, hospedagem, quimono, tatame e outros equipamentos para os alunos. E cada atleta tem a liberdade de buscar seu patrocínio”, conta.
Família une os jovens e os mais experientes
A Academia Cei Jiu-Jitsu, além de abrigar o Projeto Indo à Luta, também recebe atletas de várias as idades. Além de alunos que começaram no projeto e, hoje, já são pais de família, conta com cidadãos que veem no local um ambiente familiar.
Gilberto Alves Silva, 52 anos, é um desses alunos. Segundo ele, procurou a academia porque estava se sentindo sedentário. Ele começou a treinar em 2001 e conta que, no início, havia muita discriminação, pois o Jiu-Jitsu tinha a fama de ser violento.
“Mesmo com o estigma de ser violento, procurei me exercitar e o Jiu-Jitsu foi muito bacana. Gostei também porque estabeleci amizades que já duram anos. Formamos um grupo que treina das 21h às 23h, diariamente”, conta Gilberto, que treina com o filho. “A luta me proporciona essa oportunidade de estar relacionando também com pessoas mais novas”, completa.
André Ricardo Romão, 35 anos, começou no projeto em 1996. Ele conta que foi logo quando o Jiu-Jitsu chegou a Ceilândia. “Para nós, era um esporte elitizado. Mas conhecemos pessoas que várias classes e derrubamos a barreira do preconceito”.
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