Projeto de alto rendimento promete revolucionar o futsal e o futebol de campo da capital
Kátia Sleide
Trabalhar as categorias de base para formar equipes profissionais no futuro. Esta é a proposta que o Sesi-DF colocou em execução com o Projeto de Alto Rendimento Futsal/Futebol. O objetivo é realizar um trabalho de excelência no Distrito Federal para elevar o nível das modalidades no DF e, consequentemente, melhorar a representatividade da capital nas competições nacionais e internacionais.
Idealizado pelo professor Virgolino Mendes, o Bigu, o projeto ganhou o apoio e envolvimento direto dos educadores físicos e professores Denísia Cristina Teixeira, 35 anos, Eugênio César Lira, 37, e José Francisco Solano Junior, 58, mais conhecido por Júnior Brasília. Além disso, conta com total endosso da diretoria da entidade.
Segundo Bigu, a ideia surgiu devido ao grande número de atletas espalhados pelas unidades do Sesi-DF. “Para participarmos de algumas competições locais e nacionais, achamos por bem criar esse grupo de alto rendimento e montar o time Sesi-DF. Isso, sem deixar de lado aqueles que ainda não obtiveram o alto rendimento. Até que atinjam o nível desejado, os demais atletas participarão de competições menores para que cheguem onde idealizamos”, explica Bigu.
Para o educador físico Eugênio Lira, o projeto vem ao encontro do que muitos que já trabalham com o futsal de alto rendimento aqui em Brasília sonham. Para ele, ter uma base dentro da modalidade, não fazer apenas o cata-cata, é uma grande satisfação. “Trabalhar os atletas bem no início (sub-7 e sub-9) vai nos proporcionar uma base boa no futsal e no campo e, assim, teremos uma dificuldade menor para adaptar esse atleta à modalidade específica que ele escolher. Todos terão uma base forte e é isso que a gente quer para Brasília. O Sesi está nos dando a oportunidade para trabalhar isso”, diz Eugênio.
O professor, que já faz um trabalho de alto rendimento no futsal, reconhece que o Distrito Federal dispõe de muitos talentos. Segundo ele, há diferenças por regiões, mas só fortalece as modalidades. “Em termos de captação de talentos, o Gama é mais forte no futebol de campo, enquanto Taguatinga tem uma raiz no futsal, mas os atletas já estão se adaptando muito bem”, conta Eugênio.
Para a professora Denísia Teixeira, o projeto veio a calhar, pois a intenção dos professores do Sesi-DF é trabalhar a metodologia com as categorias de base. “Atualmente, vimos que a metodologia não é tão trabalhada nas categorias de base pensando no futuro. Queremos preparar esses atletas para que eles cheguem à idade juvenil, sub-20 e adulto com uma bagagem boa, um preparo de fundamento tático e também psicológico”, explica.
Segundo a professora, normalmente, o que costume que se tem com as categorias de base é apenas levá-los para os jogos sem trabalhar o que as crianças realmente precisam. “Com esse projeto, a gente quer mudar a metodologia do trabalho com as crianças”.
O educador físico Júnior Brasília também concorda com Denísia. “O projeto em si diz não apenas formação de atletas, mas também formação de cidadãos. A união dessas três unidades traz o fortalecimento e, para isso, procuramos trabalhar de forma coesa para a formação também de cidadãos”, complementa Solano.
Preparando o caminho rumo ao profissional
O projeto de Alto Rendimento Futsal/Futebol Sesi-DF trabalha com crianças a partir de seis anos que seguirão em preparação até os 17. “Queremos ter um alicerce forte, para lá na frente termos uma base bem estruturada, já pensando no futuro, quando teremos times nas categorias principais. Se o atleta passar por todas essas fases, ele chegará lá na frente melhor preparado”, explica Bigu.
As inscrições estão abertas para todas as faixas etárias. Tem aulas duas ou três vezes por semana. “O aluno que for selecionado para a turma de alto rendimento será trabalhado de forma diferenciada, porém, os demais, até que estejam preparados, continuarão o treinamento”, comenta Eugênio.
Estrutura em prol do esporte
Os educadores querem aproveitar a estrutura oferecida pelas unidades do Sesi em prol da formação dos atletas do futuro. “Essa faixa etária precisa de uma formação maior e o Sesi, com essa estrutura e com os profissionais que têm, dará o encaminhamento para que esses atletas tenham uma formação melhor para o futuro”, ressalta Júnior Brasília.
Denisia concorda com o colega. Ela conta que o Sesi sempre trabalhou com escolas de futsal/futebol, mas quando os alunos chegam a uma faixa etária maior, eles se perdem. “Por isso é que precisamos abraçar esse projeto e dar uma continuidade a esse trabalho. Já que eles chegam novos, o importante é amarrar a continuidade do trabalho e vamos oferecer um algo a mais”.
O projeto atende cerca de 300 crianças e jovens no alto rendimento. Entre Gama, Taguatinga e Sobradinho, o Sesi-DF conta com mais de mil alunos. Por isso, segundo Denísia, o projeto é de extrema importância. “A gente tem o trabalho nas escolas de futsal e futebol, os professores são apaixonados, o Sesi tem uma estrutura fantástica, então unimos o útil ao agradável. O sonho com a prática, pois a gente vê os talentos brotarem aqui dentro, temos alunos com potencial e a gente acaba vendo eles migrarem para outras escolas”.
No Sesi, ainda de acordo com Denísia, a preocupação é na formação geral do atleta. “Não estamos preocupados apenas com a formação do atleta, a gente quer que ele seja preparado, que ele tenha oportunidade de desenvolver, mas, se ele não quiser, no futuro, ser jogador de futebol, já vale a experiência da amizade, de ética, de integração. Tudo isso a gente tenta passar para eles”, complementa a professora.
Modalidades precisam ser federadas
Se o objetivo inicial é o preparo das categorias de base, em um espaço de tempo de médio a longo prazos, o intuito é levar as duas modalidades do Sesi-DF (futsal e futebol) à filiação nas federações de origem.
De acordo com o professor Eugênio, a filiação à Federação Brasiliense de Futebol de Salão (Febrasa) está mais próxima. “A Febrasa, hoje, é mais acessível pra gente, porque estamos vendo que a diretoria está fazendo um trabalho sério. Teve uma mudança boa, a cabeça voltada para o cuidado com a modalidade em si e não por interesses particulares, então é mais fácil pra gente e vamos nos filiar”, adianta o professor. Ele lamenta que a filiação à Federação de Futebol do DF (FFDF) esteja um pouco mais distante, já que houve mudanças no estatuto da entidade e somente abrirão oportunidade em 2020.
O supervisor Bigu afirma que o Sesi irá participar do Brasiliense de Futsal este ano e já filiado. “Já estamos providenciando a filiação. Com isso, os atletas ficarão mais interessados e a gente poderá vislumbrar a participação em competições em nível nacional”.
Bigu também lamenta que a FFDF não organize competições de base. Para ele, falta organização, pois a maioria visa lucro e o futebol da capital não sai do lugar. “Porque a FFDF não faz competições com as categorias de base? Quase todos os estados têm, mas em Brasília não tem”.
Referência
Embora acredita-se que o êxodo de atletas para fora do DF seja natural, os professores chamam a atenção para a ausência de uma referência local para dar oportunidade aos atletas destaques do DF. “Nossos atletas têm de sair daqui para ter uma chance em um clube profissional. O atleta tem de buscar fora o que a cidade não oferece”.
O treinador Júnior Brasília engrossa o coro: “Brasília precisa ter equipes fortes, porque essas crianças precisam ter essa referência aqui. Você não consegue colocar um atleta em uma equipe da cidade e isso, muitas vezes, dificulta a vida dos familiares e dos jogadores e muitas vezes acarretar em abandono do esporte”.
Uma instituição que acredita no esporte
Além do futsal e futebol, o Sesi tem judô, natação e a ginástica rítmica que é de alto rendimento. Conforme reconhecem os professores, todas as áreas estão empenhadas para que o projeto seja um sucesso. “Tudo tem de ser um conjunto, para que funcione perfeitamente e tome a dimensão que deve tomar, ou seja, a ideia é ser referência”, acrescenta Bigu.
“Gostaria de ressaltar que tudo isso não aconteceria se não tivéssemos o respaldo da diretoria do Sesi-DF”, reforça Júnior Brasília.
As inscrições estão abertas nas dependências do Sesi (Taguatinga, Gama e Sobradinho) constantemente e o aproveitamento dos atletas para o alto rendimento é feito conforme o desenvolvimento. A única exigência é que os alunos estejam devidamente matriculados na escola, seja na rede publica ou privada.