Trechos gravados desde dezembro de 2010, pelas investigações da Operação Monte Carlo, de responsabilidade da Polícia Federal, indicam que o senador Demóstenes Torres (sem partido), apontado como integrante do suposto esquema liderado pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira, atacou o governador Agnelo Queiroz (PT), com a intenção de desgastar o petista e pressioná-lo a atender os interesses da Delta Construções. Há indícios claros de que o grupo pretendia indicar uma pessoa de confiança da organização na presidência do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), órgão que controla os contratos de lixo no DF.
O nome de Agnelo aparece nas conversas que Idalberto Matias, o Dadá, discute com Cachoeira o melhor momento para desgastar a imagem do governador do DF. Isso ocorreu em meio à crise provocada pelas denúncias de supostas irregularidades no Ministério do Esporte e na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Em um dos trechos, Dadá diz ao bicheiro: “Primeiro, tem que conversar com Cláudio e Fernando, porque eles querem que bata”. O lobista da Delta faz uma avaliação, junto a Cachoeira, sobre a participação de Demóstenes no processo de desconstrução da imagem de Agnelo”.
Durante o diálogo, eles chegam à conclusão que seria melhor aguardar uma suposta denúncia contra Agnelo Queiroz, que seria feita pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que usar dossiês de opositores. “O cara vai ser denunciado mesmo lá na frente, entendeu, e aí a gente tem argumento para dizer ó… o cara (Demóstenes) tá fazendo o papel dele na oposição”, diz Dadá.
Outro trecho das gravações, Dadá comenta com Cachoeira uma conversa entre ele e Marcelo de Oliveira Lopes, conhecido como Marcelão – policial civil que trabalhou com o ex-chefe de gabinete de Agnelo, Cláudio Monteiro. Marcelão: “Dadá, olha só, os caras não estão dizendo que vai sair uma denúncia do Ministério Público? Por que aí o senador (não) espera essa denúncia sair e aí sim, ele está no direito de falar na Tribuna. Porque o que acontece, ele tem um papel do Ministério Público afirmando que o Agnelo é vagabundo’”, afirmou Dadá.
A Polícia Federal, ao fazer o resumo do conteúdo de um diálogo interceptado entre Dadá e Cachoeira, acredita que eles discutiam uma forma de “bater” em Agnelo.
De acordo com as escutas da Polícia Federal, a articulação para indicar o nome na presidência do SLU começou em dezembro de 2010. O objetivo era colocar no cargo o policial militar Paulo José Barbosa Abreu. O senador Demóstenes é citado como o interlocutor, que conversaria com Agnelo Queiroz, na tentativa de que o nome sugerido pelo grupo fosse escolhido. Porém, o delegado aposentado da Polícia Civil João Monteiro foi nomeado pelo governador. A partir de então, em vários momentos, Demóstenes foi rigoroso com o governador do Distrito Federal. Em novembro de 2011, subiu à tribuna do Senado para pedir o impeachment de Agnelo.