Quem disse que no Brasil não existe racismo?

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Kátia Sleide Editora-chefe
Kátia Sleide
Editora-chefe

Há alguns anos, antes mesmo de a Universidade de Brasília (UnB) implantar o sistema de cotas para negros, fiz uma pesquisa para um pré-projeto sobre o assunto. No início, fiquei meio confusa, afinal, a maioria das pessoas dizia que não concordava com o sistema porque no Brasil não havia racismo.

Aos poucos, a pesquisa tomou rumos interessantes, pois os dados mostravam que havia, mas que era mascarado. Bastou observá-los com zelo que vimos números intrigantes, como por exemplo: até 2003, na UnB, apenas 2% dos alunos eram negros. Do corpo docente, apenas 4% eram afrodescendentes. E elucidava mais ainda quando nos davam variáveis que provavam que era necessária uma ação para mudar a realidade do País.

Bem, o sistema de cotas foi implantado e, ao que parece, é um sucesso. Não vamos confrontar números, neste momento, porque não é o caso. Mas o assunto até hoje me desperta interesse, principalmente com os acontecimentos recentes que envolvem jogadores de futebol. O primeiro do ano ocorreu no Peru, com o jogador Tinga. Cada vez que ele tocava na bola, a torcida emitia um som imitando um macaco.

O fato causou muita indignação, tanto no Brasil quanto no exterior. Mas não bastasse essa barbárie, torcedores brasileiros repetiram o absurdo, há uma semana, contra o jogador santista Arouca, que marcou um belíssimo gol e, no momento, uma palavra maldosa ecoou entre a torcida: “macacão”.

Assim como Arouca, o árbitro Márcio Chagas, que apitava o duelo entre Esportivo e Veranópolis, no interior do Rio Grande do Sul, foi chamado de macaco. O profissional ainda teve o carro pisoteado, arranhado e, para piorar, colocaram banana no escapamento do automóvel.

Situações assim ocorrem a todo tempo. E o que dizer dessas lamentáveis cenas? A primeira palavra que me vem à cabeça é: vergonha. Muita vergonha. E isso ocorre porque não há a devida punição. É preciso identificar esses racistas, em todo o mundo, e puni-los, sem piedade.

Esse tipo de diferenciação nunca foi aceitável. Menos ainda em pleno século 21. Somos todos da raça humana. Reza a lenda que somos animais racionais e somos capazes de nos educar para evitar tamanho absurdo.

Quando ocorre lá fora, a gente se indigna. E quando ocorre no Brasil, o que nos resta é a vergonha. Ainda dizem quem não existe racismo no Brasil. Existe, sim, e precisamos mudar essa realidade, porque a cor da pele é apenas um detalhe que está na carcaça de seres humanos. Independentemente disso, todos temos sentimentos, sentimos dor e somos seres humanos. Tenho orgulho de ser descendente de negros e índios. Não temos culpa de termos sido escravizados.

Para refletir

“Não sou descendente de escravos. Eu descendo de seres humanos que foram escravizados”
(Makota Valdina – líder comunitária que nasceu em 1943, em Salvador, em um bairro predominantemente negro. Desde sua juventude, esteve envolvida com ações sociais)

 

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