Um celeiro de meninas habilidosas

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Alunas do CEF 802 do Recanto das Emas são beneficiadas com aulas de futsal

Augusto Fernandes
Especial para o Viver Sports

Há quem diga que futsal não é algo para mulheres. Contudo, para as estudantes do Centro de Ensino Fundamental 802, do Recanto das Emas, as coisas não são bem assim. Por meio do projeto Centro de Iniciação Desportiva (CID), do GDF, as alunas da instituição de ensino têm a possibilidade de praticar o esporte, e mostram que as habilidades com a bola nos pés não são exclusivas do gênero masculino.

A principal testemunha disso é Fernando Martins, 29 anos. Instrutor de futsal no CEF 802 desde 2011, o professor de educação física conta que tem orgulho das suas alunas. “Tem bastante menina talentosa. Tecnicamente, elas jogam tão bem quanto os meninos. A diferença é que elas são muito mais dedicadas. Agarram tudo com vontade e treinam com interesse”, explicou.

Há seis anos na escola, Fernando relata que o vínculo com as estudantes não se restringe exclusivamente ao futsal. O tempo fez com que vários laços de amizade fossem criados. “Eu tenho muita intimidade com elas. Nós somos muito amigos. De vez em quando sou avisado que uma aluna está mal em determinada matéria e procuro aconselhar essa estudante. O que eu posso fazer, eu faço”, disse.

A relação de Fernando com o futsal vem desde quando ele tinha cinco anos de idade. Aliás, na sua época de estudante do ensino fundamental, ele também foi beneficiado pelo CID, sendo campeão dos Jogos Escolares do Distrito Federal, em 2002. Tudo o que viveu enquanto jogava e o seu papel de treinador o auxiliam no contato com as alunas.

Segundo ele, “o que eu tive de experiência como aluno, é o que eu tento passar para elas agora. Eu fui atleta, e fui muito ajudado pelo projeto. Nas ruas existem muitas coisas que tiram a nossa atenção. E estando aqui, dentro da escola, elas não estão na rua fazendo besteira. No esporte, aprendemos valores como respeito e obediência. E eu acho isso interessante, porque elas aprendem que o jogo tem regra. E na vida também tem”.

Apesar de saber que muitas meninas poderiam ter um futuro brilhante no futsal, Fernando reconhece que se tornar um atleta profissional está cada vez mais desafiador nos dias de hoje. Mesmo assim, ele espera que o esporte mude a vida de cada uma das suas alunas. Para o professor, viver da modalidade ainda é uma realidade muito longe. “Como eu estou no meio do futsal há muito tempo, sou bem sincero. Eu sei que para virar um profissional e ganhar milhões, não é fácil. O que eu passo para elas é: “Vai ser rica com o futsal? Não. É muito difícil”. Elas podem conseguir uma profissão? Ou uma bolsa na faculdade? Podem, com certeza”.

Fernando se diz “realizado” por poder ajudar os jovens por meio do esporte. O sentimento é o mesmo de muitas alunas. Bianca Araújo, 14 anos, é o principal exemplo. Há um ano e meio fazendo parte do CID, a estudante diz que mal sabia o que era futsal. “Eu não sabia jogar direito. Nem ligava para isso, achava a maior besteira. Mas fui convidada por uma amiga, gostei e agora não quero sair mais. Para mim, o futsal é a melhor coisa. Aprendi muito”, relatou Bianca.

Ainda de acordo com a adolescente, Fernando é mais do que um professor. Dessa forma, o clima das aulas fica mais leve, permitindo até algumas brincadeiras. “A gente interage muito bem, tanto aqui dentro como fora. Nem parece que ele é um professor. É um amigo dando aula.

Outra aluna que joga pelo CEF 802 é Camilla Esther Oliveira. Com apenas 16 anos, a garota tem bastante história no futsal. Tanto que já viajou para Belém, Fortaleza, João Pessoa e São Paulo para competir. Além disso, neste ano, foi campeã do torneio de futsal dos Jogos Infanto-Juvenis da Federação Regional do Desporto Escolar do Distrito Federal, jogando pelo Colégio Certo. Com o título, a escola de Brasília representará o DF no Brasileiro Escolar de Futsal da Confederação Brasileira do Desporto Escolar, a ser realizado entre novembro e dezembro, em Natal (RN). Caso sejam campeãs, as meninas do Colégio Certo se classificarão para o Mundial Escolar de Futsal, que acontecerá em Rishon Le Zion (Israel), em 2018.

Com tantas coisas acontecendo, Camilla só tem a agradecer. “Estou muito alegre. Nunca tive a oportunidade de participar de campeonatos assim. Vou encarar todos como um desafio. Como mais um obstáculo na vida”, afirmou. A adolescente, que joga desde os nove anos de idade, confessa: “não consigo imaginar minha vida sem o futsal depois de tanto tempo jogando. Sempre gostei do esporte, ele é muito bom. Imagino-me jogando no futuro”.

A equipe feminina de futsal do CEF 802 coleciona alguns títulos: as meninas já foram bicampeãs dos Jogos Escolares do Recanto das Emas (2015 e 2016) e campeãs dos Jogos Escolares do Sesc (2017). No ano passado, ficaram com o 4º lugar dos Jogos Escolares do GDF, sendo a melhor escola pública de Brasília na classificação geral. Os títulos orgulham a Fernando, mas ele diz que o mais importante é competir. “Claro que vamos para uma competição para ganhar. Nós queremos o título. Mas o que importa é ver que elas não estão na rua. Estão aqui, fazendo um projeto que gostam. No meu modo de ver, o mais importante é o lado social”, pontua.

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