Esportes coletivos amadores vivem cenário de incertezas

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Faltam cinco meses para acabar o ano e as ligas e federações seguem sem respostas quanto às competições

Kátia Sleide

Ligas, associações e federações de esportes coletivos vivem cenário de incertezas quanto à retomada das atividades esportivas no Distrito Federal. A expectativa também esbarra nos protocolos a serem adotados para que seja possível realizar os campeonatos com segurança. Alguns acreditam que mesmo com o retorno autorizado pelo Governo do Distrito Federal, muitas competições ficarão esvaziadas, uma vez que há o temor do contágio e também a falta de condições de se cumprir todas as medidas que serão estipuladas pelos órgãos governamentais e sanitários como condicionantes para a realização dos eventos esportivos.

O cenário pandêmico afetou todos os países e mudou o nosso “normal”. A economia, a saúde, o setor produtivo, o mercado financeiro sofreram um duro golpe. Com o esporte não foi diferente. Competições importantes (nacionais e internacionais) foram suspensas e outras de grande porte, como as Olimpíadas de Tóquio, foram adiadas para 2021.

Se a situação já é conflitante e preocupante para modalidades e competições de grande porte, imagine o quanto é impactante para os esportes coletivos amadores brasileiros, que já sofriam com a falta de apoio e visibilidade.

No Distrito Federal, ligas de esportes coletivos, associações e federações que lidam com esportes amadores vivem a incerteza quanto ao cumprimento do calendário de 2020. Há, nesses casos, entidades que já estavam com planos de trabalho em fase adiantada em tramitação na Secretaria de Esporte e Lazer do DF e, após a suspensão das atividades, refizeram sua programação para o segundo semestre.

Faltam cinco meses para o ano acabar e alguns já acreditam que não haverá condições para a realização das competições. Outros ainda mantém a esperança, mas reclamam da falta de posicionamento da Secretaria de Esporte quanto à real condição sanitária de se realizar os campeonatos (categorias de base e adulto).

CEILÂNDIA

Em Ceilândia, que tem um dos campeonatos mais disputados do DF, a viabilidade está cada mais distante. Nadir Lacerda, presidente da Liga Esportiva das Categorias Independentes de Ceilândia (Lecic), disse que a entidade não conseguiu ainda se programar para a retomada das atividades. “A Lecic ainda não tem uma programação para o retorno. Para isso, teríamos de criar um protocolo e cumprir, mas as equipes estão achando o custo muito alto”.

Nadir acha difícil realizar competições este ano. “O futebol amador é diferente do profissional. Em campo aberto, fica difícil controlar o público. Temos que ter responsabilidade. Não adianta querer fazer competições de qualquer jeito”, ressalta o presidente da Lecic.

Alexandre Valotto, o Galeguinho, presidente da Liga Unida de Futebol Amador de Samambaia, também pensa basicamente como Nadir Lacerda. Para ele, além da falta de previsão de liberação das atividades esportivas, outra dificuldade é encontrar um deputado distrital que queira, diante do cenário sombrio, destinar emenda parlamentar para competições.

“Estou indo conversar com parlamentares e com a SEL. Os distritais se perguntam como vão aportar recursos para uma programação que não se tem a garantia de ser executada. Isso, sem falar na falta de segurança no que se refere à saúde. Ninguém quer ter o nome ligado a uma situação temerária. Imagine se eu faço uma competição na cidade, via Lufas, e acontece algum problema com uma criança ou mesmo atleta adulto? Aí, vão dizer que está vinculado a alguma emenda, ao governo. Então, os parlamentares não querem fazer, nesse primeiro momento. Está todo mundo receoso”.

Ciente da gravidade da situação, o presidente da Lufas não tira a razão dos parlamentares. Para Galeguinho, o momento requer outras ações e, segundo ele, vai buscar junto aos distritais a partir do próximo mês alternativas para driblar a ausência de competições. “Neste primeiro momento, acredito que o mais viável é tratar para o ano que vem esses recursos. Ou tentar algo online para as crianças; promover curso de arbitragem, de treinador para os adultos. É o que vou buscar, a partir de agosto, com alguns distritais”, revela o presidente da Lufas.

Para ele, está cada vez mais difícil programar uma competição de esporte coletivo ainda este ano, porque não se tem a segurança necessária em se tratando de saúde. “No caso do futebol profissional, voltarão, mas com testagem dos atletas e com tudo fechado. Quem tem condições hoje de fazer testagem no futebol amador e com espaços abertos? Não tem como fazer. Por isso, acho muito difícil ter algum campeonato amador em 2020”.

E completa: “Como vamos controlar o deslocamento dos atletas do amador. O garoto diz que vai assistir a um filme e vai jogar. E se for infectado, os pais vão jogar a culpa pra gente. É muita responsabilidade para as ligas, escolas de futebol, projetos sociais. O atleta profissional faz o teste, dá negativo, ele vai para o jogo. Mas eles têm condições de fazer isso. Nós não temos”, finaliza Galeguinho.

GAMA

No Gama, a situação é a mesma. Um dos diretores da Liga de Inclusão Social e Esportiva do Gama (Liseg), Claudiney Dornelas Gomes afirma que todos estão na expectativa pelo retorno. “A Liga está aguardando o posicionamento da SEL sobre a volta. Por enquanto, não fizemos nenhuma discussão à cerca dos protocolos que serão estabelecidos para isso. Porém, neste ano, creio ser muito difícil que saia algo, mas também é de se entender que existem demandas mais urgentes que as nossas”.

PLANALTINA

Do outro lado do DF, a incerteza sobre o retorno também é grande. De acordo com o presidente da Liga de Futebol Amador de Planaltina, o Ninim, “ainda não há nada de concreto com relação à volta das competições do futebol amador de Planaltina”. Ele explica que o grupo está tentando se organizar, porém, esbarra no cumprimento do distanciamento social “Estamos, aos poucos, correndo atrás de algumas coisas para facilitar o retorno, mas não estamos nos expondo muito para evitar o contágio”.

Quanto à certeza se haverá ou não a competição ainda este ano, Ninim está analisando com os dirigentes qual seria a data máxima para que seja possível bater o martelo e afirmar que há prazo hábil para tal.

Planos de trabalho em tramitação na SEL

Para as entidades que estavam com toda a programação (planos de trabalho) já praticamente aprovada pela Secretaria de Esporte e Lazer do DF (SEL-DF) para viabilização do custeio das competições, via fomento, a expectativa é maior ainda, porém, a descrença começou a aparecer devido à ausência de uma data certa para o retorno.

Uma das principais preocupações é de que com o cancelamento, as entidades percam as emendas que foram destinadas.

SÃO SEBASTIÃO

Hermes Ferreira, presidente da Lida Desportiva de São Sebastião (Ladss) é um desses exemplos. Segundo ele, a programação do semestre já estava toda fechada. O plano de trabalho foi entregue há meses e já estava aprovado, mas tudo ficou parado por conta das medidas restritivas.

“Em junho, o pessoal da SEL entrou em contato comigo para ajustar as tabelas prevendo o início das competições para 22 de agosto. Fizemos isso e estávamos esperando o decreto liberando as atividades esportivas, mas até hoje não liberou e acho que não dará tempo de iniciar nesta data”, comenta Hermes.

O presidente da Ladss diz que muitas equipes não vão querer participar de competições este ano por medo da Covid-19 e isso pode levar à perda do recurso para pagar a arbitragem. “Estou tentando reverter a destinação para não perder a emenda, mas vejo que é quase impossível ter competições este ano. E, com a probabilidade de ter uma competição esvaziada com a saída de parte das equipes, caso se confirme, não dá pra fazer um campeonato de qualquer jeito”.

COPA HC

Ao contrário dos demais organizadores, Hebert Campos, presidente da Associação Desportiva, Social e Cultural HC, está otimista. “Se liberou academia, tem de liberar tudo, porque academia é uma aberração. Um pega no mesmo equipamento que o outro”.

Segundo ele, “têm de liberar as atividades coletivas em ar livre. A não ser que aumente muito o número de casos. Porém, pelo que estou acompanhando, nós estamos saindo do pico para uma descendente agora. Vamos aguardar”.

Ele conta que, pelo que conversa com os técnicos da SEL, a previsão é que as atividades retornem na segunda quinzena de agosto, mas vai depender do governador. “Depois que as aulas retornarem, acredito que não terá mais como segurar. Segura menino dentro da sala de aula e não vai liberar para a prática do esporte? É muito complicado”, argumenta Hebert Campos.

OUTRAS MODALIDADES

Olimpíadas de Ceilândia

Outro evento de grande repercussão realizado no DF é as Olimpíadas de Ceilândia. Com 23 modalidades previstas para este ano, as competições envolvem desportistas de várias partes do Distrito Federal.

Um dos organizadores, João Cleber Fernandes, informou à reportagem que estão apenas aguardando a liberação por parte do governo. “Respondemos a última diligência há mais de uma semana e está tudo certo. Montamos o calendário da competição para o período de 1º de setembro a 8 de outubro. Estamos na expectativa de assinar o convênio em agosto, para começar a divulgar”.

Moacyr Júnior, também da organização das Olimpíadas de Ceilândia, disse que a data é uma previsão, mas que a diretoria espera uma definição da SEL para trabalhar nos ajustes da competição.

Voleibol espera realizar uma das quatro etapas previstas

Assim como as outras modalidades esportivas, o voleibol também sofre com a falta de definição de uma data para a retomada das atividades. Segundo o presidente da Liga Brasiliense de Voleibol (Libravo), Edmilson Ribeiro, “a previsão era de quatro etapas neste ano”, mas pelo desenrolar dos fatos, tudo indica que só haverá prazo para a realização de uma, apenas. “Até hoje ainda não temos um previsão sobre o retorno dos eventos esportivos. A expectativa é que possamos estar liberados ainda neste semestre, pois não fizemos nenhuma etapa em 2020”.

O presidente da Libravo diz que espera conseguir fazer uma etapa em outubro, mas a indefinição é preocupante. “A Secretaria não tem passado nada de concreto sobre o retorno”, arremata Edmilson.

Febrasa ainda acredita na realização da Taça Brasília

Outra modalidade que também teve sua programação completamente prejudicada foi o futsal. A Federação Brasiliense de Futebol de Salão (Febrasa) já estava com o plano de trabalho em tramitação na Secretaria de Esporte e Lazer para a realização da Taça Brasília 60 anos, evento que conta com equipes federadas e convidadas e que dá vaga a certames nacionais organizados pela Confederação Brasileira de Futsal (CBFS).  

No calendário da entidade, a Taça Brasília seria realizada entre os meses de março e 1º de maio. Com a suspensão de todas as atividades, a expectativa agora, segundo o presidente da entidade, Paulo César Bulhões Wassouf, é que a competição comece na primeira semana de setembro. Para isso, a liberação das atividades esportivas tem de ocorrer na primeira quinzena de agosto, pois, ainda de acordo com o presidente, é preciso dar um prazo para a preparação técnica e tática dos atletas.

“A expectativa de retorno do esporte coletivo é imensa. Sabemos que não haverá torcida presencial e talvez até o final do ano. A Febrasa tem acompanhado e monitorado o cenário, porém, todo retorno neste ano terá de cumprir protocolo de saúde. Seja com preenchimento de formulário, com medição de temperatura e outras medidas que são orientadas para a segurança de todos”, destaca Bulhões.

Questionado se será possível cumprir um protocolo rigoroso para garantir a saúde dos atletas e de todos os envolvidos nas competições, o presidente foi enfático: “Um protocolo rigoroso, evitando aglomerações, além de uso de máscaras, seria atendido, sim, se o governo de cada estado realizasse a testagem em massa na população e que se dispusesse a realizar os testes de Covid-19, a cada 20 dias, em atletas, comissões técnicas e em todos os profissionais que atuam nas competições, sejam elas federadas, amadoras ou profissionais”, pontua.

OPINIÃO (VIVER SPORTS)

Questionamentos sem respostas

Quem acompanha as competições amadoras no Distrito Federal organizadas por ligas, federações e outras entidades que fomentam o esporte sabe das dificuldades e angústias que esse público experimenta. Neste ano, a tormenta foi bem maior devido à situação da pandemia do novo coronavírus que culminou na suspensão de várias atividades.

A expectativa para a retomada das competições amadoras coletivas no DF é grande por parte de atletas, dirigentes, organizadores, árbitros e demais envolvidos no cenário esportivo.

Porém, é preciso manter a calma e ter muito cuidado com a pressão para o retorno das atividades, pois, como bem reiterado por alguns representantes de ligas, a responsabilidade dos organizadores com a integridade dos envolvidos é muito grande.

O que acirra ainda mais a tensão em torno da volta das competições é a falta de uma voz que trace à comunidade esportista do DF, com clareza, sem rodeios ou tapinha nas costas, a realidade dos fatos. Isso caberia à secretária de Esportes, Celina Leão.

Tentamos, desde o dia 24 de junho, que a secretária concedesse uma entrevista ao jornal Viver Sports, veículo que está há nove anos trabalhando em prol do esporte amador do DF e Entorno, para responder aos principais questionamentos da comunidade esportiva do DF, mas não obtivemos retorno até a presente data (29/7/2020).

Não sabemos se por esquecimento ou por desconhecimento. Fica o registro de que antes mesmo de enviar as perguntas à assessoria de imprensa da secretária, fizemos um breve relato do jornal Viver Sports. Foi em vão.

Perguntas simples que seguem sem respostas

– Há alguma previsão para a liberação dos eventos esportivos no DF?
– Quanto aos espaços públicos, há previsão de liberação (campo, quadras, clubes)?
– Há algum estudo no DF sobre protocolo (medidas sanitárias de combate à Covid-19) voltadas ao esporte?
– Há diferenças entre uma modalidade e outra (esportes coletivos e individuais).  Existe alguma chance de uma modalidade ser liberada e outra(s) não?
– Com a mudança à frente da gestão, muitos projetos que já estavam praticamente aprovados (faltando poucos detalhes) para que fossem executados estão parados na SEL. Há o temor de que os mesmos fiquem parados. Como está o acompanhamento desses planos de trabalho?
– Uma das grandes preocupações de associações, ligas e federações está relacionada às emendas parlamentares que já haviam sido destinadas a eventos. Muitos temem que esses recursos sejam redirecionados a outros setores. Há a possibilidade de isso ocorrer?
– Quais são os planos da SEL para tentar, na medida do possível e com muita responsabilidade, é claro, dar andamento aos projetos que já estavam em andamento na pasta?
– Qual a mensagem a secretária mandaria aos presidentes de ligas, federações e associações para acalmá-los quanto aos projetos que já estavam em andamento?


Já que não houve respostas às perguntas direcionadas à secretária, fica a nossa torcida para que ela se empenhe em entender e ajudar a sanar as demandas das ligas, associações desportivas e federações para que as competições possam retornar, mas com a maior segurança sanitária possível.

E quanto ao governador Ibaneis Rocha, uma observação: tudo que a comunidade esportiva mais deseja é o decreto autorizando a realização de eventos esportivos e a liberação dos espaços públicos para tal. Todavia, ceder à pressão e passar para as entidades que fomentam o esporte toda a responsabilidade com as vidas que estarão em risco é inaceitável. Essas entidades vão precisar do apoio do GDF para movimentar as arenas esportivas, assim como necessitarão do apoio também para preservar o bem maior que é a vida.

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