Projeto vira curso de extensão da instituição de ensino para atender crianças da Estrutural
Assim surgiu a parceria entre o projeto Ajax, do professor Alessandro Maciel, e a Faculdade Mauá, que resultou no Programa de Extensão Comunitária – Projeto Intercâmbio de Saberes, que visa promover a conexão entre os programas de ensino, pesquisa e extensão do curso de educação física da instituição de ensino superior.e um lado, uma instituição de ensino superior que visa preparar jovens para o mercado de trabalho e não somente como mais um profissional, mas como agentes de transformação. De outro, um projeto voltado para a formação de cidadãos do futuro, utilizando o esporte como ferramenta.
O objetivo é gerar um ciclo acadêmico de compartilhamento de saberes sistematizados e consequente beneficiamento das comunidades acadêmica e da cidade Estrutural. O projeto funciona com a participação dos alunos de educação física da Mauá, sob a orientação do professor Alessandro Maciel.
Para a estudante do primeiro semestre de educação física da Faculdade Mauá Diliene Inácia de Assis, 30 anos, a experiência tem proporcionado um leque de opções como educador, como profissional. “Eu visava somente o trabalho em academias, a questão da saúde. Ele trazendo a gente para esse lado da inclusão social está sendo muito interessante. Inclusive, eu nem pensava em fazer licenciatura, queria apenas bacharel. Por conta dele, está abrindo minha mente para ajudar outras classes sociais”.
Diliene conta que o trabalho realizado na Estrutural, especificamente, faz com que ele pense em como ajudar comunidades de baixa renda. “A gente, enquanto educador, acaba sendo o pedestal para essas crianças. Muitas vezes, eles não conhecem as oportunidades e os direitos e a gente é que faz esse papel principal para ajudar essas comunidades”, acredita. E completa: “É um trabalho de formiguinha, mas se a gente conseguir resgatar um, e esse um abrir a mente para tentar um futuro melhor, já é bem gratificante e válido”.
Respeito
Marcos Félix Lopes Reis, também aluno da Mauá, está no sétimo semestre de educação física. Segundo ele, a disciplina trouxe os estudantes para o mundo real. “É uma experiência que terá um impacto melhor na minha carreira. Na minha vida pessoal está sendo muito bom também. Essa é a segunda vez que estamos vindo aqui. Na primeira, fizemos uma entrevista com os alunos do projeto Ajax e perguntamos o que eles aprenderam com o projeto. A maioria respondeu: o respeito. Isso, pra gente, é algo muito gratificante”, comenta.
Segundo ele, a experiência que terá um impacto muito grande na carreira de educador física. “Acredito que todos têm de vivenciar isso, porque a partir dessa experiência vão se tornar melhores professores, melhores educadores”, conclui Marcos.
Em busca da formação humanitária
O projeto Ajax já era desenvolvido na Estrutural há alguns anos. Ganhou a força da Faculdade Mauá, porque tanto a instituição de ensino quanto o professor responsável pelo projeto, Alessandro Maciel, viram na união uma parceria de sucesso em prol de comunidades carentes.
“A ideia surgiu quando comecei a dar aula na Faculdade Mauá, no curso de Educação Física. Meu coordenador, o Ariel Vieira, teve a ideia brilhante de envolver a Mauá no projeto do Ajax. Ela veio com força e propriedade e logo a instituição viu que poderia estender essa ação”, conta o professor.
Participar do projeto não apenas com o assistencialismo, comprando material, uniforme, não seria o bastante para a Mauá, mas poderia ser um núcleo de extensão realmente dentro do contexto acadêmico, em que a faculdade realmene pudesse ter uma ação de responsabilidade social com a fomentação do conhecimento de ensino superior, conhecimento técnico.
“O Ministério da Educação achou a ideia brilhante, avaliou-nos e nos credenciou por essa ideia. Hoje, oficializamos o Núcleo de Ciência Comunitária na Faculdade Mauá, que é vivo e permanente e funciona todos os sábado, na Estrutural”, comenta Alessandro.
Para ele, um dos pontos interessantes dessa parceria é que o professor sai mais capacitado tecnicamente para ser um profissional de educação física e, por outro lado, recebe dessas crianças uma energia e um potencial de trabalhar a questão humanitária. “O que adiante ser um excelente personal ou excelente professor de alguma escola e não conseguir passar o mínimo de humanidade e cidadania?”, questiona.
A parceria começou no segundo semestre do ano passado e, de acordo com o professor, já rende frutos. “Um deles é que todos os alunos do projeto Ajax que concluírem o ensino médio terão bolsa 100% na faculdade. Essa é uma promessa da diretoria da Mauá”.
Projeto ganhará mais um apoiador
Fabio Barros Lima, advogado, especialista em direito público e eleitoral, esteve na Estrutural, sábado (26), para conhecer o projeto. “Essa é a primeira vez que tive a oportunidade de ver uma atividade in loco. Nunca tinha feito o trabalho social, mas participei, ainda na infância, de uma escola de fuebol de cunho social”, conta.
Ele revela que o interesse veio da experiência que teve como aluno da escola e que o ajudou na sua formação como um cidadão, um homem de família. “Esse tipo de trabalho muito me sensibiliza, porque é nessa fase que a gente começa a formar o caráter, que as pessoas começam a definir a personalidade”.
O advogado enaltece o trabalho realizado na Estrutural, pois, segundo ele, “desenvolver o esporte nessas comunidades afasta as crianças do crime, das drogas, além disso, incentiva o estudo”, acredita Fábio, que pretende apoiar o projeto de várias maneiras.
“Penso contribuir de uma maneira que possa proporcionar meios para os participantes. Pelo que conversamos, as dificuldades aqui são imensas e de todas as ordens, principalmente de insumos, materiais, inscrições, formalização do projeto. A ideia é dar esse suporte financeiro, na medida do possível, um suporte material e até assistência jurídica para o projeto nessa questao de formalizar, de dar estrutura formal ao projeto Ajax.
Resultado
A comunidade também colhe os frutos das ações do curso de extensão da Faculdade Mauá, em parceria com o projeto Ajax. Adailton Pereira dos Santos é morador da Estrutural e tem duas filhas que participam das aulas aos sábado. “As meninas, uma de 11 e outra de 8 anos, fazem aula com o Ajax. elas mudaram muito depois que entram na escola de futebol. Antes, queriam viver na rua, mas agora ficam mais em casa e esperando chegar o sábado para jogar futebol”, conta o pai.
Além disso, segundo Adailton, as filhas melhoraram muito na escola e também vê mudança em outras crianças. “Alguns pais não conheciam, mas agora tem muitos que já estão vindo trazer as crianças para cá. Eles deixam os nomes comigo e eu passo para o professor”, conta.
As ações, ainda de acordo com Adailton, ajudam as famílias da Estrutural, porque tira muitas crianças das ruas. Mas ele faz um apelo aos governantes: “O governo tinha de cobrir a quadra, tirar as crianças do sol. Na semana passada teve um tiroteio aqui. Tem muitas coisas irregulares por aqui”.
O projeto está crescendo e a cada semana ganha novos alunos. São várias as comunidades carentes do DF que necessitam de ações como essas. “Essa ação é muito positiva e poderia ser feita por várias instituições de ensino superior. As faculdades poderiam estar coladas com outros projetos sociais de várias periferias existentes em Brasília, porque a demanda é grande”, finaliza Alessandro.