Como já ocorre há 32 anos, jogos pra lá de inusitados fecham o calendário esportivo da cidade
Kátia Sleide
Dois duelos fecharam o calendário esportivo festivo de Brazlândia, nos dias 24 e 31 de dezembro, com os confrontos da categoria Master entre Renner x Atlético, as duas equipes mais antigas da cidade, e o desafio Solteiros x Casados.
No desafio entre Solteiros x Casados, um “castigo” inusitado. O perdedor do primeiro confronto, que ocorre no dia 24 de dezembro, tem de vir para o tira-teima, em 31 de dezembro, travestidos de mulheres.
Neste ano, quem levou a pior no primeiro jogo foi a equipe dos Solteiros, que perdeu por 2 x 1. E os mesmos vieram para o jogo do dia 31 superproduzidos, ou melhor, “superproduzidas”.
Brincadeiras à parte, mesmo com os trajes caprichados, o time dos Solteiros venceu a equipe dos Casados, no dia 31, por 6 x 2.
Os times são formadas por atletas da Quadra 12 Norte de Brazlândia. A brincadeira já ocorre há 32 anos.
À frente da organização do evento há 16 anos está o Welison Dias, árbitro profissional, formado pela Universidade de Brasília (UnB). Professor bacharel em Educação Física, ele já atuou em jogos do Campeonato Brasiliense da Federação de Futebol do Distrito Federal (FFDF) nos anos de 2011, 2012 e 2013.
A responsabilidade em manter o evento que anima a cidade há tanto tempo é grande. “Não é fácil segurar uma tradição de 32 anos”, comenta Welison Dias, mais conhecido por Professor Lelé.
As principais dificuldades, segundo Lelé, passam pelo apoio e pelo trabalho de reunir a galera. “Conseguir patrocínio e parceria para o evento é uma das maiores dificuldades, além de não ser fácil reunir moradores e ex-moradores da Quadra 12 Norte para jogarem e manter a tradição”, comenta.
Embora as dificuldades, para o árbitro, ver os amigos reunidos em torno de uma tradição de 32 anos não tem preço.
Renner Esporte Clube: o “pai” da brincadeira
O evento Solteiros x Casados surgiu com os jogadores do Renner Esporte Clube, equipe amadora de Brazlândia. O duelo, inclusive, é realizado no campo da tradicional equipe.
Quem não perde um desses encontros é Domingos Gomes Fernandes, o fundador do Renner EC, equipe que nasceu em 1969. Ele confessa que nunca jogou bola, mas que faz questão de estar presente nos campos.
Sr. Domingos, hoje, está com 82 anos. Segundo um dos filhos, o Keba, ele quase não dormiu à noite ansioso para ir para o campo. “Eu gosto de estar aqui e rever os amigos. A pelada do fim de ano foram eles que inventaram, mas quero sempre estar presente para rever os amigos”, diz o fundador.
Contemporâneo do Sr. Domingos, Lourenço Antônio Alves, 86 anos, era só alegria à beira de campo. Ele conta que jogou na equipe veterana do Atlético, há mais de 40 anos. “Todo ano eu venho para rever os amigos. Não podemos deixar isso aqui morrer. É um evento muito bom para a comunidade”, frisa Lourenço.
Também com o propósito de rever os amigos, Edemilton Oliveira da Silva, ex-jogador do Renner, marcou presença. Ele já saiu de Brasília há 18 anos, mas faz questão de comparecer, sempre que é possível. “Venho a cada dois anos. Não para jogar, mas para rever os amigos. É maravilhoso saber que nos conhecemos há tantos anos e já saí daqui há quase duas décadas e, quando chego, sou bem acolhido”.
Desafio de Masters
Se o jogo entre Solteiros x Casados da Quadra 12 Norte de Brazlândia é tradição, então, os organizadores resolveram reunir os jogadores masters das duas equipes mais tradicionais da cidade, Atlético (46 anos) e Renner (48 anos), para fazerem as preliminares do evento festivo.
No primeiro duelo, dia 24, não teve alteração no placar: 0 x 0. No dia 31, o equilíbrio se manteve e o jogo terminou em 1 x 1.
Para o atual presidente do Renner Esporte Clube, Divino Antônio de Oliveira, que está à frente da equipe desde 2014, o sentimento em acompanhar o evento é imensurável. “É muita alegria e satisfação realizar este evento. O esporte é saúde, é vida e também é cultura, além de ser uma importante ferramenta que ajuda a tirar os jovens de situação vulnerável”, comenta Divino.
Ele conta que o evento começou apenas no time do Renner. “Quando acabava o campeonato amador da cidade, essa foi uma das maneiras que encontraram para confraternizar no Natal e no Ano Novo e envolve a comunidade da Quadra 12 Norte e adjacentes”, lembra.
Juntando o Renner e o Atlético, segundo Divino, tem muita história. “As duas equipes são as maiores pioneiras do futebol de Brazlândia. É quase um século de existência se somar a idade das duas: Renner, com 48 anos, e o Atlético, com 46”, destaca o presidente do Renner.
A organização do evento também contou com o apoio do Painha, treinador dos Solteiros; Arnaldo, treinador do Renner Master; e Divino Oliveira, presidente do Renner Esporte Clube.
O importante é manter a tradição e sempre ter um motivo a mais para reunir os amigos em prol de uma grande causa que é o esporte. Por isso, fica a torcida para que consigamos contar essa história por muitas e muitas décadas ainda. E também os parabéns aos organizadores, pela luta em manter o evento vivo na comunidade de Brazlândia.