Equilíbrio e união familiar proporcionam aos praticantes força para lutar por títulos
Kátia Sleide
Há alguns anos, o Jiu-Jitsu não era uma arte marcial bem vista. Acreditava-se que os praticantes eram violentos e arrumavam confusão por onde passavam. Se houve razão para essa crença, não é o momento para se discutir, mas a luta tem caído no gosto popular e, ao contrário do que se pensa, grande parte dos praticantes encontrou na modalidade tranquilidade, equilíbrio e união entre pais e filhos.
A Academia Uniclass, localizada na quadra 411 do Cruzeiro Novo, oferece a Jiu-Jitsu e já conta com mais de 60 alunos (adultos e crianças). Entre os praticantes, aproximadamente 40 são competidores.
À frente da academia está Eduardo Lustosa, 26 anos, que luta há 14 e tem um currículo extenso (ver quadro de conquistas). “Comecei aos 12 anos, mas minha família não acreditava tanto, devido ao estereótipo que se tinha na época, mas fui quebrando as barreiras e o preconceito”, conta Eduardo.
O atleta começou a fazer história aos 13 anos, quando foi campeão brasileiro e Centro-Oeste de Jiu Jitsu e, aos 17, começou a dar aulas e transformou o hobby em coisa séria. Hoje, o faixa preta ajuda na formação de outros atletas. “O que era apenas uma diversão, acabou virando profissão. Por conta do Jiu-Jitsu, fiz Educação Física e hoje estou mais preparado para ensinar meus alunos”, diz o professor.
Para Eduardo Lustosa, entrar no tatame é como estar em uma grande família. “Aqui, a gente tem pais e filhos lutando juntos, praticando atividade física em família. E quando eles estão competindo, fico mais nervoso ainda, pior do que se fosse eu, pois sei o quanto eles se dedicaram e se prepararam para o momento”.
Para fazer bonito nas competições
Atualmente, Eduardo Lustosa ocupa um cargo administrativo na Federação Brasiliense de Jiu Jitsu Esportivo. Segundo ele, Brasília é referência na formação de atletas. “Temos campeões pan-americanos, medalhistas de mundial e muitos competidores de ponta”.
Em 2011, os atletas da Uniclass, que fazem parte da Equipe Nova União – mesma do campeão do peso pena do UFC, José Aldo – foram campeões por equipe no Campeonato Brasiliense, e vice no Pan-Americano.
Ter o nível que requer os campeonatos é preciso muita dedicação e os competidores não fogem das responsabilidades. No fim do ano, tiveram recesso de 23/12/2011 a 3/1/2012. Logo em seguida, retomaram os treinos para se prepararem para as competições deste ano, que começam em março e vão até dezembro (ver calendário de eventos).
Campeão Mirim de 2011 se prepara para mais conquistas
Arthur Henrique Cavalca da Silva Oliveira, sete anos, pratica Jiu-Jitsu há um. É pouco tempo de luta, mas os resultados já apareceram. Em 2011, foi campeão
brasiliense na categoria Mirim. “Ele treina de segunda a sábado. E só não treina aos domingos, porque a gente não deixa”, conta o pai, Carlos Henrique de Oliveira.
O jovem atleta seguiu os passos do pai, que luta há 15 anos e conta como o Jiu Jitsu é importante para Arthur. “Ele se identifica muito com a luta. Joga futebol, adora estar com a galera da bola, mas é no tatame que ele se solta. Sem contar que ficou muito disciplinado, desde que começou a lutar”.
Segundo Carlos Henrique, antes, ele levava Arthur para academia, mas agora, é o garoto que o leva. “Às vezes, estou cansado, meio desanimado, mas ele coloca pilha, insiste até que eu tenho de ir. Então, hoje em dia, é ele que me guia pra treinar”, conta.
Enquanto os treinos seguem a todo vapor, Arthur não esquece da conquista de 2011. “Esta aqui é minha medalha de campeão. Vou conseguir outras também”, planeja o lutador.
Em família
Para o professor Eduardo Lustosa, o garoto leva muito jeito e é uma das promessas da academia. “Ele fica todo empolgado quando está aqui. Assim como ele, temos outras crianças. É importante ressaltar o quanto o Jiu Jitsu tem sido positivo para muitas famílias. Tenho alunos que treinam e trazem os filhos para assistir, porém, eles saem da condição de espectadores e caem na luta, na companhia de seus pais. É uma honra poder propiciar esse elo”, diz.
Eduardo acompanha Carlos Henrique há 15 anos. Hoje, ele também assiste os primeiros passos de Arthur e se emociona ao falar de pai e filho. “O Arthur gosta muito de competir e está aqui todos os dias. É exemplo de determinação e força de vontade. A gente fica na expectativa de que renda muitos frutos”.
A origem da arte suave
uma delas é que a arte marcial nasceu na Índia e era praticada por monges budistas, que desenvolveram uma técnica baseada nos princípios do equilíbrio, evitando o uso da força e de armas. Com a expansão do budismo, a modalidade percorreu o sudeste asiático, a China e foi para o Japão.
A luta chegou ao Brasil com Mitsuyo Maeda Koma, conhecido como Conde Koma, em 1915. Ele conheceu Gastão Gracie, que ficou entusiasmado com a arte marcial e levou o filho mais velho, Carlos Gracie, para aprender com o japonês.
Carlos seguiu os passos do mestre e, em 1925, abriu a Academia Gracie de Jiu-Jitsu, no Rio de Janeiro. Trouxe com ele os irmãos e os ensinou o que sabia. A partir daí, o brasileiro lançou desafios aos grandes lutadores da época e passou a gerenciar a carreira dos irmãos, que enfrentaram adversários bem mais pesados que eles, e venciam, o que gerou notoriedade nacional.
Os Gracies aprimoraram a luta. Enquanto a arte marcial dos japoneses privilegiava as quedas, a deles era no chão e com golpes de finalização. A nova característica ocasionou o primeiro caso de mudança de nacionalidade de uma luta na história esportiva mundial. Anos depois, a arte marcial japonesa passou a ser denominada de Jiu-Jitsu brasileiro, sendo exportado para o mundo todo, inclusive para o Japão.
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Há muito tempo não lia uma matéria tão boa sobre jiu jítsu. Deu até vontade de voltar a praticar. Parabéns