Nascida em Ceilândia, mas criada em Samambaia- cidade onde morou dos 3 aos 20 anos-, a jovem Jennifer Gomes (23), mais conhecida como Mc Jenny, é hoje o principal nome do funk brasiliense, sem perder em nada para os funkeiros do Rio de Janeiro, onde o ritmo começou.
“Sofri muito preconceito no início, por ser mulher e por ser de Brasília”, relembrou Jenny, que começou como dançarina até que, em 2007, teve que improvisar no palco para encobrir a falta do MC durante um show e aí descobriu seu talento.
A artista trilhou uma carreira de sucesso a partir do seu hit Aquecimento da Mc Jenny, em 2011, música que fez o Brasil inteiro “testar sua coordenação” e o “clima ficar quente”, como diz a letra.
Jenny viu outra porta se abrir depois de ser finalista de um programa de talentos em 2012, pois a partir daí conseguiu emplacar uma música na trilha sonora de uma novela infantil e, com isso, conquistar um novo público: as crianças.
“Foi muito gratificante juntar o funk com o universo infantil, agora eu ouço das mães: ‘minha filha é sua fã'”, disse a cantora, que desde sempre evitou cantar o “proibidão”- estilo de música com palavrões e temas eróticos. “O meu funk entra em qualquer casa”, acrescentou.
Com a projeção alcançada depois da novela, Jenny pensa agora em seguir na linha do público infantil e contou no bate-papo com a Agência Brasília que, ainda este mês, vai lançar o clipe da nova música de trabalho Na onda do Elevador.
Apesar de morar desde 2010 em Águas Claras, a funkeira até hoje tem ligação com a cidade onde moram seus pais, irmãos e tios. “Tenho orgulho de dizer que sou daqui de Samambaia”, contou durante a sessão de fotos na entrada da cidade.
A ligação entre a cidade e a cantora é ainda maior, já que Samambaia completa 24 anos na próxima semana, dia 25, e Jenny atinge a mesma idade logo em seguida, no dia 10 de novembro.
“Aqui tem muito lugar bacana para os adolescentes e jovens praticarem esportes”, destacou a jovem Mc durante a entrevista.
Apesar de reconhecer a ausência de opções de lazer para a comunidade, Jenny apontou que a “população de Samambaia luta muito para ter uma cidade cada vez melhor”.
COMPLEXO CULTURAL- Na área cultural, esse engajamento da população local é bastante expressivo, já que a cidade tem um dos Conselhos Regionais de Cultura mais bem estruturados do Distrito Federal, com reuniões mensais e diversos projetos em andamento.
A principal conquista do grupo é a implantação do Complexo Cultural Samambaia, com teatro, cinema, biblioteca, museu, oficinas, estúdios e escola de artes, obra que deve ser lançada ainda este ano com previsão de conclusão para 2014, segundo a administração regional.
POETA PIONEIRO- Um dos artistas que atuam na linha de frente pela construção desse complexo é o poeta pioneiro Luiz Vieira, maranhense de Timon, que conta em versos e rimas toda a história da cidade.
Apesar das diferenças aparentes, Vieira e Jenny compartilham o mesmo carinho por Samambaia e, assim como a funkeira, o poeta também faz aniversário perto da data da cidade querida. Ele completa 66 anos hoje (17) e diz que sempre aproveita para comemorar na festa de aniversário da cidade.
Mas enquanto Jennifer Gomes nascia em 1989, Luiz se mudava de Ceilândia, onde morou desde a chegada ao DF, em 1977, para o assentamento recém-regularizado, região que ele descreveu em um de seus versos como uma terra de “muitos sonhos e mato”.
São mais de 40 poesias e 140 músicas compostas, grande parte relacionadas à cidade que viu nascer e a problemas sociais. Tudo está guardado na memória de Seu Luiz, que reúne recursos para lançar um livro e um DVD em breve.
Até mesmo a luta pela instalação do Complexo Cultural foi retratada em poema pelo artista. “Posso repetir de novo, a cultura de um povo engrandece uma nação”, finaliza o texto.
Humilde, o poeta recebeu a reportagem em sua casa calçando chinelo de dedo e dizendo ser tímido, mas se mostrou excelente orador quando começou a declamar seus versos e tocar algumas de suas músicas acompanhado da viola.
Teve orgulho de mostrar que uma de suas canções foi composta em homenagem a Luiz Gonzaga, a quem chama de “xará”. “Gonzaga não morreu. O Pai Eterno o chamou para a inauguração do salão nobre de Cristo, na festa de São João”, cantou o artista.
Apesar da idade, Luiz Vieira ainda esbanja saúde, mas já deixou claro que pretende viver até o último dia de sua vida em Samambaia. “Ou, quem sabe, nem depois de morto eu não saia”, brincou o poeta em referência a possibilidade de construção de um cemitério na cidade.
Luiz e Jenny têm o mesmo discurso, já que, se depender da MC, ela também não abandonará a região. “Conheço vários estados, mas gosto daqui” contou a jovem que junta dinheiro para comprar a casa própria e está bastante tentada a adquirir um apartamento em Samambaia. Fonte: Agência Brasília