Camilla Orlando se espelha em modelo americano, e faz com que jovens até 17 anos tenham acesso à educação e ao esporte
Augusto Fernandes
Especial para o Viver Sports
Camilla Orlando sempre foi apaixonada por futebol. Desde pequena, ela se aventurava entre os garotos para praticar o esporte, e mostrava que não estava para brincadeira. Com o tempo, a sua seriedade gerou frutos, e ela teve a oportunidade de competir profissionalmente. Camilla defendeu as camisas das equipes do CFZ, Cresspom, UDF e ASCOPP, e chegou a enfrentar Marta e Cristiane, quando estas jogavam pelo Santos.
Porém, em 2005, ela teve de tomar uma decisão difícil: ir para São Paulo, tentar a chance em um estado com mais oportunidades para o futebol feminino, ou ir para os Estados Unidos, para se graduar em um dos países com melhor ensino do mundo. Depois de muito refletir, ela optou pela segunda alternativa, e foi até terras americanas, onde se formou Cinesiologia na Lincoln Memorial University (LMU) — anos depois, seu diploma foi revalidado pela Universidade de Brasília (UnB), em Educação Física.
Lá, o seu contato com o futebol não terminou. Ao invés disso, a relação de Camilla com o esporte se intensificou, e ela chegou a competir por torneios universitários. Terminada a graduação, ela voltou para o Brasil, e com o que aprendeu nos Estados Unidos, decidiu apostar na criação de uma academia de futebol feminino.
No início deste ano, Camilla criou a Camilla Orlando Academia de Futebol Feminino (COAFF). O intuito da COAFF é auxiliar garotas de 5 a 17 anos de idade, com aulas de futebol de campo e de futsal. Além disso, por meio de parcerias com algumas instituições de ensino, algumas alunas do projeto recebem bolsas de estudo.
Antes, porém, Camilla tinha iniciado seus trabalhos como treinadora, aos 19 anos. Ela comandou o time da Escola das Nações e uma equipe da UDF. Atualmente, também treina os times Sub-20 e profissional da UnB de futsal feminino. Como a COAFF recebe atletas até os 17 anos de idade, algumas meninas do projeto são utilizadas na equipe da UnB, para as meninas darem continuidade no esporte.
Camilla diz que sua experiência no país americano foi marcante, e quis realizar algo parecido no Brasil. “Eu vi que lá tinha um grande incentivo para as meninas mais novas, e queria que aquela realidade que eu vivi, fosse uma realidade também no Brasil. Não só para mim, mas para outras pessoas também. É uma questão social, de querer que o Brasil também tenha as mesmas oportunidades”, explica a fundadora da COAFF.
Para ela, não é uma tarefa fácil. Contudo, ela não tem dúvidas de que suas alunas podem ter as mesmas oportunidades que ela teve enquanto estava nos Estados Unidos. “É só uma questão de organização, de planejamento, e de executar com excelência. Eu tenho certeza de que a gente tem potencial para ter o mesmo tratamento que os americanos têm com o futebol feminino”, afirma.
Além disso, Camilla pontua que são necessários muito mais do que recursos financeiros para que o projeto seja bem-sucedido. Na sua visão, “não é só a questão financeira, porque muita gente que acha que é só isso. Também é preciso valorização e respeito, além da criação de campeonatos para as meninas, algo que não acontece muito”.
Apesar de não ter conseguido dar seguimento à carreira como jogadora profissional, Camilla não se arrepende. Para ela, “o futebol dá muitas oportunidades, não só para quem está na Seleção Brasileira ou para quem é craque de bola. No meu caso, eu viajei para os Estados Unidos, aprendi inglês, conheci outra cultura e tive a chance de ver um país que respeita a mulher. Eu tive outros ganhos além de jogar uma copa do mundo, ou jogar na Seleção Brasileira. Não é isso que faz você ser vitorioso no esporte. O esporte muda a minha vida todo dia”.
São experiências assim que aproximam Camilla das suas alunas. No auge dos seus 33 anos de idade, ela mostra às meninas do projeto que nem sempre elas lidarão com vitórias, e que existem valores mais importantes. “Eu tento passar que futebol é muito mais do que ser campeão, muito mais do que uma vitória. São as amizades que fazem o futebol. Minhas melhores amigas eu conheci por causa do esporte. Sem contar em valores como respeito, disciplina e determinação. Elas têm que saber que quando algo dá errado, não é o fim do mundo. Muita coisa ainda pode acontecer”, frisa.
Além da inserção no esporte, o que mais deixa Camilla orgulhosa é a mudança das realidades educacionais de algumas atletas. Um dos exemplos é Dienyfer Tavares, 16 anos, que estudava em uma escola pública, e devido à COAFF, passou a estudar no COC do Lago Norte, uma escola particular bilíngue. Em 2018, a academia terá auxílio de outra instituição de ensino: o Colégio Adventista, que fornecerá bolsas de estudo para algumas atletas.
“O esporte está influenciando a vida delas, sem dúvida alguma. Não só tecnicamente, mas também a postura. Alguns pais falam que elas passaram a ter mais disciplina, que estão mais focadas. É engrandecedor saber que elas têm um objetivo”, destaca Camilla Orlando.
A principal meta da maioria das jogadoras é de se profissionalizar no esporte. Há aproximadamente um mês no time, Izabelle Medeiros, 12, está mais confiante. “Aprimorei minhas habilidades e conhecimento de jogo. As treinadoras são fantásticas. Tudo que passei aqui é completamente diferente do que eu já tinha visto. Agora, tenho ainda mais expectativa de que eu posso realizar o meu sonho”, comenta.
Luísa Campos, 14, é outra que almeja um futuro como atleta profissional. Para ela, a COAFF está sendo bastante importante na busca desse objetivo. “Estou no time há um ano. Já aprendi e evoluí muito desde 2016 para cá. Sempre quis ser jogadora, e acho que com a COAFF muitas portas podem se abrir para mim”, ressalta.
Para as duas garotas, uma das melhores experiências vividas com a COAFF foi uma viagem realizada para a Granja Comary, em Teresópolis, no Rio de Janeiro. Na sede do Centro de Treinamento da Seleção Brasileira de Futebol, as meninas disputaram um torneio. A ida ao estado carioca aumentou a intimidade das meninas.
“Dentro e fora de campo nós somos muito amigas. Ir até a Granja Comary foi muito legal, porque é onde a Seleção treina. Foi uma experiência incrível”, garante Luísa Campos. “Foi muito bom viajar para o Rio de Janeiro com elas, pegamos muito entrosamento. Isso ajuda bastante, porque aumentamos o conhecimento dentro de campo. Esse entrosamento é ótimo para um time”, lembra Izabelle Medeiros.
No último sábado (2), as categorias Sub-14 e Sub-17 da COAFF chegaram à final da 14ª Copa Integração de Futsal. O adversário das finais foi a Udev-Ajax. As meninas do Sub-14 venceram por 5 a 3, ao passo que o elenco Sub-17 foi derrotado por 4 a 2. As equipes foram comandadas por duas amigas de Camilla, e também treinadoras de futsal, que estão auxiliando no projeto: Ana Paula Malmonge e Noemi Viana, ambas formadas em Educação Física.
Segundo Camilla, ela gosta de incentivar outras técnicas. “É uma alegria para mim. É importante não apenas o meu trabalho, mas o nosso trabalho. O delas, principalmente, por elas estarem comandando essas equipes”, relata.
Por fim, Camilla destaca a entrega das suas alunas. Para ela, isso faz toda a diferença. “Elas são apaixonadas, se entregam mesmo. Se doam ao projeto, são bem dedicadas e disciplinadas”, completa.