Talento amazonense

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Equipe sub-17 de Manaus participa da 7ª Copa Brasília de Futebol de Base, e conquista o coração da população do Gama

Augusto Fernandes
Especial para o Viver Sports

Quando o elenco do Seven Mec, clube de futebol amador do Amazonas, aterrissou na capital federal para participar da 7ª edição da Copa Brasília de Futebol de Base, atletas e comissão técnica mal esperavam que terminariam o campeonato com uma repercussão tão positiva. Eliminados ainda na fase de grupos da competição, a equipe de Manaus virou o xodó do público mesmo sem levantar o troféu de primeiro lugar.

O carinho da população do Gama, onde o campeonato é disputado desde 2012, foi devido ao esforço de todo o clube para conseguir se deslocar de Manaus para participar da competição, a primeira do Seven Mec fora do Amazonas desde que a equipe foi criada, há dois anos.

Nem todos os jogadores do time tinham condições para arcar com as passagens de avião para Brasília. Dessa forma, o jeito foi arrecadar dinheiro para custear a vinda para a capital federal. Os atletas fizeram isso vendendo rifas, água, refrigerante, salgados e frutas. Nos semáforos ou em jogos de campeonatos amadores na cidade, quase todos os 18 jogadores do time se empenharam para garantir uma maneira de viajar para o DF.

“Nós fizemos com que cada atleta valorizasse essa viagem. Queríamos que eles batalhassem e lutassem para pagar os seus custos. Que eles realmente se importassem, para que essa não fosse somente uma viagem de passeio. Todos eles tiveram uma parcela para que a gente chegasse aqui”, conta o coordenador e treinador do Seven Mec, Erick Amorim.

Para Erick, o empenho dos seus atletas o deixou orgulhoso. “Quando você batalha muito para conseguir alguma coisa, o resultado é mais prazeroso”, afirma. Apesar de não ficar entre os primeiros colocados, a equipe conseguiu algo tão valioso quanto um título. “Quando andávamos nas ruas, as pessoas nos reconheciam e nos parabenizavam, por tudo o que passamos. Cada minuto aqui valeu a pena”, ressalta Erick.

Para o também coordenador e treinador da equipe, Gil Lopes, essa experiência foi marcante mesmo para os atletas que já haviam participado de torneios por outros clubes. “Pelo reconhecimento que eles acabaram tendo aqui na cidade, em lugares como a feira, a igreja e os restaurantes, foi inesquecível. Essa competição foi a primeira de várias do Seven Mec, e com certeza vai ser a mais especial”, garante.

Surpreso pela recepção da população gamense, Erick se sente grato por tudo o que o elenco viveu no DF. O lema do clube, “vem ser feliz”, traduz o sentimento de cada um. “Nós não esperávamos ter essa repercussão. Nós viemos com o objetivo de mostrar a todos a nossa educação, quem é o nosso povo e um pouco da nossa cultura. Mas a forma como abraçaram a gente nos surpreendeu. Os meninos ficaram muito felizes e satisfeitos. Foi muito gratificante”, pontua.

Na visão de Gil, os acontecimentos fora de campo se tornaram o maior título do Seven Mec. “Quando uma equipe amadora disputa um campeonato e não ganha, a tendência é que ela acabe. Com essa, vai ser diferente. Pela união dos meninos, eles vão continuar juntos. Nós não conquistamos o troféu do torneio, mas conquistamos um pedaço de Gama. Esse é o título que a gente leva para Manaus”, destaca.

Além dos treinadores e jogadores, três auxiliares da equipe também vieram com o elenco, entre elas Elisiane Braz, mãe do atleta Mateus Braz. Ela conta que os pais de todos os meninos foram importantes para a viagem do clube. “Há muito tempo os nossos filhos participam do futebol em Manaus, e montamos uma comissão de pais, com o objetivo de arrecadar verba para arcar comas despesas do time e dos atletas. O sonho deles passa a ser um sonho nosso”, pontua.

Diretora da Federação Amazonense de Futebol Amador, ela acredita que o futebol é uma importante ferramenta de socialização. “Enquanto esses garotos estiverem dentro do esporte, vai ser bem mais difícil eles entrarem em outra realidade que não é própria para um cidadão de bem. O futebol revela boas pessoas”.

O nascimento de uma família

Um dos atletas mais experientes do Seven Mec, o meio campo Lucas Andrade, 16 anos, garante que a relação com os companheiros deve durar por um bom tempo. Segundo ele, “a nossa união foi o que mais me marcou. Lá em Manaus, cada um jogava por uma equipe diferente. Quase ninguém se conhecia quando chegamos em Brasília, mas em dois dias, todos já estavam entrosados. O resultado foi o de menos. O mais importante foi a amizade que fizemos”.

Na sua opinião, a recepção que o clube teve foi algo parecido com o que aconteceu com a Chapecoense, após a tragédia de 2016. “Estava brincando com os meninos que a nossa equipe é como se fosse a Chapecoense. Todos gostaram da gente e nos acolheram. Mesmo não conseguindo alcançar o nosso objetivo, que era o título, deixamos um legado. Em vários locais as pessoas falaram bem do clube”, comemora.

Para o zagueiro Hendrik Maniqué, 15, a viagem ao Distrito Federal com os companheiros de clube será difícil de esquecer. “Eles se tornaram irmãos para mim. Além disso, conheci novas pessoas aqui. Criei uma segunda família. Fico muito feliz por isso. Espero continuar com esse elenco por um bom tempo”, enaltece. O também zagueiro Emerson Monteiro, 16, destacou o papel da comissão técnica. “Eu nunca tinha jogado em um time tão unido. A comissão técnica nos trata como filhos. Cada um protege o outro”, valoriza.

Por sua vez, o lateral-direito Ricardinho, 16, capitão do Seven Mec, classificou o Gama como uma segunda casa. Para ele, a dedicação de todo o elenco é algo que não pode ser esquecido. “A nossa história foi bonita. Todos batalharam para chegar aqui, e tentamos fazer o nosso melhor. Lutamos e brigamos juntos, como uma família. Não ficamos felizes com o resultado, mas com certeza construímos algo muito bonito no Gama”.

Emocionado com o que viveu durante a disputa do campeonato, Ricardinho só tem motivos para agradecer: “sem dúvidas, essa foi a minha melhor viagem. Tanto na parte de construir amigos, quanto no aspecto de sentir o clima do torneio. A maior lição que eu vou levar é que nós não precisamos de título para sermos vitoriosos. É claro que não queríamos perder, pelo empenho de cada um. Mas ficamos felizes por aquilo que conseguimos conquistar, que foi o carinho das pessoas daqui. Nos sentimos importantes, e isso foi a mesma coisa que um título”.

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